segunda-feira, 28 de março de 2011

Uma pequena parte da minha ancendência



Eu vou escrever aqui uma pequena parte da minha ascendência do lado do meu pai e da minha mãe, pelo menus a partir dos meus bisavós ou tetravós conforme o conhecimento que eu tenho. Eu não posso escrever tudo desde a minha primeira ascendência, dos primeiros antepassados meus por falta da informação da minha parte. Pois eu também não vou elaborar muitas coisas aqui mesmo que eu sei algumas histórias, relações com Samoro-Soibada, Bariki, Laklo, Laleia, Turiskai e Laclubar etc.
 
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O João da Cruz recebeu o titulo de Dom do Estado Português. No tempo do D. João da Cruz, Funar era um reino grande. Mesmo ainda antes do reinado de D. João da Cruz, Funar já era um reino grande e até mais grande do que no tempo do D. João da Cruz. O nome da casa sagrada do D. João da Cruz é Liurai Mane-Hiak. Depois da morte do D. João da Cruz a sua família entregou culturalmente o poder de governação ao Na’i Suan; o pai do rei D. José do Espírito Santo.
 
No Reino de Funar há duas casas sagradas de Liurai (Casas Sagradas com poder de governar como rei)  que é Casa Sagrada Liurai Manehiak e Casa Sagrada Liurai Mane Kaolik. Manehiak em português significa irmão mais novo e Manekaolik significa irmão mais velho. Liurai significa rei em português. A queda do reinado de D. João da Cruz (da casa sagrada Liurai Manehiak), faz com que a legitimação de governar o reino de Funar deve cair na mão da casa sagrada liurai Mane Kaolik. Não pode ser outra casa sagrada a não ser a casa sagrada de liurai Mane Kaolik a tomar responsabilidade de ser rei no reino de Funar. Então foi o Na’i Suan (da casa sagrada de Liurai Manekaolik) assumiu a responsabilidade do governar o reino de Funar depois ele deu o poder como rei ao seu filho D. José do Espírito Santo para governar o reino de Funar. No seu tempo Funar tinha como reinos vizinhos Manelima, Orlalan, Samoro, Barique, Laleia, Laklo, Turiscai e há casamentos entre eles, sobretudo dentro da família real destes reinos.
 
D. João da Cruz tem um filho chama-se Nicolau. Nicolau tem dois filhos; Domingos Sarmento e Manuel Boavida. Uma das filhas de Manuel Boavida é a minha mãe. Então eu sou tetraneto de D. João da Cruz.
 
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O D. José do Espírito Santo tomou o poder como rei de Funar depois do reinado de D. João da Cruz.  Culturalmente a família do Liurai Manehiak entregou o poder de reinar o reino de Funar ao Liurai Manekaolik na mão de Na’i Suan. Depois Na’i Suan entregou o seu poder ao seu filho José do Espírito Santo. José do Espírito Santo ao subir ao trono como rei de Funar, ele teve apoio do então governador Timor-Português naquela altura. Até a sua tomada de posse foi feita no palácio do governador em Lahane-Dili. O governador de Timor-Português atribui o título honorífico Dom ao José do Espírito Santo e o nome fica como D. José do Espírito Santo. A legitimação de reinar o reino de Funar foi entregue à casa sagrada de Liurai Manekaolik até agora. O Liurai Manekaolik ainda tem muita importância e é muito bem respeitado até hoje em dia. Quem é liurai de Funar actualmente é o meu padrinho Domingos do Espírito Santo e o pai do Domingos do Espírito chamado rei Aníbal do Espírito Santo no tempo da Indonésia foi considerado também como Liurai de Laklubar e então foi representar Laklubar como deputado da assembleia local de Manatuto (DPRD Manatuto) quando Laklubar já era sub-distrito de Manatuto. Rei Aníbal do Espírito Santo é o padrinho do irmão mais velho do meu pai. Por isso na guerra civil em 1975 entre UDT e Fretilin o meu avô escondeu o rei Anibal do Espírito Santo. Os simpatizantes da Fretilin de outra região não chegaram a pensar que o meu avô escondeu um elemento principal da UDT na sua cabana numa das suas hortas na área de Manelima(Fronteira entre Funar e Manelima). Eles não entraram para fazer revista à cabana do meu avô. A protecção do rei Anibal do Espírito Santo também teve apoio de um outro delegado da Fretilin que era chefe aldeia de Fahilihun.  O principal delegado da Fretilin em Funar. Todos os anciões de Funar sabiam que o rei Anibal do Espírito Santo escondia na cabana do meu avô mas ninguém revelou isso ao público. Porque todos tiveram muito respeito ao rei Aníbal do Espírito Santo. Então o rei Anibal do Espírito Santo ficou salvo. O meu pai era também da Fretilin. Os familiares do meu pai do lado paterno eram da Fretilin. Mas temos muito respeito a UDT, aos lideranças da UDT como por exemplo tio Domingos de Oliveira e à família de Carrascalão. 
Antes de D. José Espírito Santo morrer ele dividiu o seu reino por duas partes. Uma parte ele entregou ao seu filho Liurai Aníbal do Espírito Santo e outra parte ele entregou ao seu sobrinho e que considerado também como o seu filho Liurai António dos Santos de Oliveira (porque a mãe do Liurai António de Oliveira é irmã do D. José do Espírito Santo). Na tradição de Funar consideramos que Liurai Anibal do Espírito Santo e Liurai António de Oliveira como se fossem irmãos. Eles os dois casaram com duas filhas do Liurai de Orlalan.
Funar no tempo de D. José Espírito Santo já era um reino reduzido e então com a morte do D. José do Espírito Santo, Funar foi submetido ao sub-distrito de Laklubar. Mas antigamente Funar era um reino e era bem grande e um dos reinos mais antigos de Timor. Funar tinha existido primeiro como reino antes de existir Laklubar como reino e como sub-distrito.
 
D. José do Espírito Santo teve muitos filhos. Uma das filhas do D. José do Espírito Santo era a mãe da minha mãe. Então a minha mãe é neta de D. José do Espírito Santo. Então eu sou bisneto de D. José do Espírito Santo.
 
 
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Na’i Mauk casou com a irmã do  D. João da Cruz, chamada Kasabutar. O Na’i Mauk era chamado também com o nome Na’i Dato. Ele tinha função na parte das leis tradicionais. Antigamente no reino de Funar tinha estrutura do reino como se fosse um estado moderno. Liurai de Manehiak/Manekaolik tinha função como  se fosse um Presidente da Republica. Liurai Manehiak/Manekaolik lideraram o reino todo e era chefe do reino de Funar. Na outra parte Dato que é um nobre a baixo do rei que tinha função na parte da justiça, fazer cumprir as leis e liderar a guerra. Se comparamos com um estado moderno o dato como se fosse um presidente de parlamento nacional e ao mesmo tempo como presidente de tribunal e comandante do exército. 
 
Na'i Mauk tem um filho com o nome Jeremias Hahik-Wa’in. Jeremias casou com Filomena Nae Nahak da casa sagrada de Liurai Manelima.  Filomena quando ainda não foi baptizada teve o nome como Na’i Busak porque apesar de ela ser uma mulher mas foi ela é que guardou as coisas sagradas da casa  Liurai Lulik Manelima. Ela era prima do Fernando Osório Soares mas foi considerada como se fosse a sua irmã dentro da casa sagrada Liurai Lulik de Manelima. Fernando Osório Soares foi viver em Soibada como professor no colégio de Soibada então o papel de guardar casa sagrada Liurai Lulik de Manelima foi entregue à Filomena Nae Nahak por considerar como irmã. Então foi assim Filomena Nae Nahak foi chamada como Na’i Busak. Depois Jeremias foi casar com Filomena e Filomena deixou a função de tomar conta com casa sagrada Liurai Lulik de Manelima e foi para Funar ficar com o seu marido. O meu avô António Ferreira era um dos filhos de Jeremias e de Filomena Nae Nahak. O meu avô nasceu na casa no reino de Manelima e quando nasceu foi atribuído o nome gentílico Koli Leki. Koli Leki era o pai de D. Dinis, rei de Manelima. D. Dinis queria adoptar o meu avô tratar como se fosse o seu filho. Mas o avô do meu avô que era Na'i Mauk não deixou. Na'i Mauk por respeitar a família real de Manelima deu uma lâmina de ouro ao rei D. Dinis como sinal de respeito e para que D. Dinis não sentia ofendido com a recusa do avô do meu avô e para que a relação familiar continuava ser bom. D. Dinis casa com a prima de D. João da Cruz chamada Dauk. D. Dinis entregou o poder como rei ao seu filho rei Luis Ferreira Soares. Cada liurai e dato tem símbolo de poder que em tetum chamado rota. Normalmente quem subiu ao trono de Liurai-Rei ou dato guarda esta rota. No caso de Liurai Manelima um pouco contrário. Quem governou o reino de Manelima era rei Luís Ferreira Soares mas a rota foi entregue ao seu primo chamado Carlos Soares. Foi Carlos Soares que guardou e comeu as comidas sagradas oferecidas à rota de Liurai Manelima. Carlos Soares casa com uma das filhas de Jerimias Hahik Wa'in e Filomena Nae Nahak chamada Eugénia. Quando Filomena Nae Nahak morreu, por costume de Timor, da parte da família do marido pagou alguma quantia de bens como por exemplo búfalos e lâmina de ouro (Belak mean em tetun) à família da mulher; então a família do Jerimias Hahik-Wa’in pagou isso à família da Filomena Nae Nahak. Quem representa a família da Filomena Nae Nahak eram o primo da Filomena Nae Nahak, Rei de Manelima Luis Ferreira Soares e o seu sobrinho Francisco Osorio Soares em representação ao pai Fernando Osorio Soares.
O meu pai é tetraneto de Na’i Mauk e neto de Jerimias Hahik Wa’in. Então eu sou tetraneto do Na’i Mauk e bisneto de Jerimias Hahik Wa’in.
 
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A mãe do pai era da família da casa sagrada chamada Ai-Nean. No reino de Manelima tem três casas sagradas mais importantes. A casa sagrada Lulik, casa sagrada de Ua, casa sagrada Ai-Nean. A casa sagrada Lulik fica separada das  duas casas sagradas. Nesta casa sagrada é que as pessoas faziam cerimónia ritual gentílica como hafoli, ritual de enterro das pessoas mortas, etc. Casa sagrada Ua tem função como governar o povo. Casa sagrada de Ai-Nean tem como função de acolher ou de receber o povo num ritual importante que tem relação com casa sagrada Lulik ou casa sagrada Ua. Por exemplo há uma cerimónia na casa sagrada Lulik, então o povo primeiro vai ser acolhido na casa sagrada de Ai-Nean e depois  vai  ser levado para casa sagrada de Ua e daí é que depois pode ser levado para casa sagrada Lulik. Então eu também sou geração da casa sagrada Ai-Nean.