sábado, 28 de maio de 2011

Os guerreiros de Timor e a Bandeira Portuguesa




Eu quando vi esta fotografia que eu tirei do livro intitulado a História de Timor-Leste Por Frédéric Durand então lembrei-me da história que os meus familiares me contaram sobre o meu bisavô (do lado paterno) o guerreiro nobre Dato Jerimias Hahik Wa’in que defendia a bandeira portuguesa e fazia guerra ao lado dos portugueses. Ele era conhecido com o nome Dato Hahik e ele era o sobrinho do Rei de Funar D. João da Cruz.

Dato Hahik na sua vida, ele fazia guerra ao lado dos portugueses. Ele defendia a bandeira Portuguesa em Timor. Muitas guerras que ele participava a favor do Estado Português. Foi assim que o Estado Português numa altura da sua vida atribui-lhe um prémio.

O poder de reinar o reino de Funar passou do mão do seu tio para a mão de D. José do Espírito Santo que era o avô da minha mãe. Enquanto D. José do Espírito Santo ao subir ao trono como Rei, ele teve também apoio do governador de Timor-Português naquela altura. A sua tomada de posse foi realizada no palácio do governador de Timor-Português em Lahane - Dili. O meu bisavô continuava fazer a guerra ao lado dos portugueses e defender a bandeira portuguesa no território de Timor-Português (o antigo nome oficial de Timor-Leste).Todas as minhas gerações do lado paterno sempre tinham respeito aos reis que estavam a governar. Porque temos sempre relações familiares com os reis de Funar e os meus antepassados eram sempre fiéis aos reis e ao Estado Português.  Quando houvesse conflito dentro do reino de Funar os meus antepassados paternos procuravam sempre resolver por via pacífica e procuravam sempre proteger a parte mais fraca.
Eu hoje em dia, como pessoa humana sou muito simples e humildes. Eu procuro sempre ser humilde.  Eu tenho sempre respeito aos familiares do meu pai (do lado paterno e materno) e da minha mãe (do lado paterno e materno). Eu sou fiel e tenho muito respeito ao meu padrinho que actualmente é detentor do poder real de Funar. Mesmo Funar agora já não é um reino e já tornou como um suco pequeno (antigamente Funar era um reino antigo e grande) mas continua existir o poder real tradicional como acontece em todo lado de Timor e eu vou continuar respeitar isso como sempre e vou continuar respeitar todos os meus os familiares. Porque para mim na minha vida eu tenho que respeitar a Igreja Católica e as casas sagradas do meu pai ( do lado paterno e materno) e da minha mãe (do lado paterno e materno).  Ser humilde e respeitar todas as pessoas são algo muito importante da vida.
  

terça-feira, 17 de maio de 2011

As mulheres timorenses também podem governar?





Eu já ouvi muitas pessoas dizem que nos países em vias de desenvolvimento, as mulheres são vulneráveis e são tratadas discriminatoriamente comparando com os homens. A liberdade das mulheres é limitada. As mulheres não podem participar na vida política, social e religiosa. Afinal essas acusações não são totalmente verdadeiras. Mas também não são totalmente erradas. Cada caso é um caso.
Concordo que em todo o mundo há sempre discriminação racial, religiosa e género. Isso acontece também em Timor-Leste. Mas o que certo é nós estamos sempre a procurar melhor maneira de reduzir e de acabar com qualquer tipo de discriminação.  Mas há sempre coisas e funções diferentes entre homens e mulheres na família e na sociedade. O mais importante nós (homens e mulheres) devemos colaborar uns aos outros nas tarefas nas famílias e numa comunidade. Nós, homens, devemos ver as mulheres como parceiro da vida e vice-versa.
Na comunidade antiga de Timor-Leste, acreditamos que as mulheres são sagradas. Há uma expressão em Timor que diz: Feto Maromak.  Este tem significado as mulheres são deusas. Isso porque? Ora, em Timor antigamente a religião era animista. Acreditamos no poder da natureza; a montanha, o mar, o rio, as pedras, as florestas e acreditamos no poder das almas dos antepassados, etc.
Em todo o território de Timor há sempre casas sagradas. Casa sagrada é uma casa que guarda os objectos sagrados e que habitam nas coisas sagradas os antepassados sagrados. Cada clã tem a sua casa sagrada e as pessoas antigamente agrupam-se num reino. Apesar Timor é uma ilha tão pequena mas antigamente havia muitos reinos. Num reino havia muitas casas sagradas e entre casas sagradas haviam casas sagradas de Liurai (Rei em Português) e de Dato (Nobre abaixo do Liurai).  Hoje em dia por vários motivos já não existem reinos. Mesmo assim em cada freguesia ainda se encontram estrutura social tradicional. Ainda existem Liurai e Dato.  
Os timorenses dividem as casas sagradas em dois tipos. Casa sagrada Loro(em tétum), na minha língua idate chama-se Ada Lelo e casa sagrada Rota que se traduz para a minha língua é Ada Ua ou em tétum Uma Rota. Casa sagrada Lelo é que tem função guardar os objectos sagrados, habitam os antepassados sagrados, fazem-se ritual da vida, do casamento, colheita e da morte neste casa sagrada. Todas as clãs podem ter essa casa sagrada para organizar as suas vidas como estão mencionados em cima ( ou por exemplo para orar antes de semear as hortas e ou depois de fazer colheita, cerimónia da morte, cerimónia do casamento, etc).
Agora num reino, antigamente, havia sempre classe social superior que era Liurai e Dato. O liurai e o dato além de ter casa sagrada Lelo, tinham também casa sagrada Ua. As casas sagradas Ua tinham como função de governar o povo. O liurai(Rei) tinha função como chefe de um reino. O dato tinha função na área da justiça e da guerra. Na minha crença tradicional estas casas sagradas Lelo ou de Liurai ou de Dato ou mesmo uma casa sagrada Lelo com uma classe social abaixo do Liurai ou do Dato e ou de qualquer geração nós consideramos sempre que a casa sagrada Lelo é uma casa sagrada Mulher. O nome da casa sagrada é considerado também com o nome Casa Sagrada Mulher.  Enquanto nas casas sagradas de Dato e de Liurai consideramos que casa sagrada Lelo é mulher e casa sagrada Ua é homem. Os dois devem estar sempre unidos.
Acontece que nos reinos antigos de Timor já havia as mulheres que governavam o reino como rainha. Por exemplo Rainha de Camenassa (Camenassa) como se podem verificar na fotografia em cima e no reino de Funar que já foi governado por uma rainha que também se podem verificar num documento em cima com número 35.   Estes documentos e fotografias da Rainha de Suai têm datas diferentes. 
Estes dois reinos eram dois dos reinos mais antigos que existiam em Timor. Então isso para dizer o que? É simplesmente isso para dizer que as ideias de algumas pessoas que pensam que as mulheres não podem governar ou as mulheres em Timor eram muito discriminadas desde tempos antigos não são totalmente verdadeiras. Mas eu não posso dizer também que não há discriminação ou mau trato para as mulheres. Porque sim, existe a discriminação e mau trato para as mulheres feitos por alguns homens. Tem muitas factores que podem levar um homem a praticar violência contra a sua mulher. Esse situação também tem a ver com a educação de cada pessoa, situação económica, a mentalidade, atitude, o ambiente, etc. 

SERÁ QUE TIMOR-LESTE É UM PAÍS CATÓLICO?






Os missionários portugueses foram os primeiros europeus que chegaram em Timor em 1515. Depois em 1651 chegaram também os holandeses na qual conseguiram conquistar e ocupar a parte ocidental da ilha. Em 1859 houve um tratado assinado entre estes dois países europeus para dividir a ilha em duas partes. Timor Ocidental fez parte aos holandeses e Timor Oriental (Timor-Leste) fez parte aos portugueses. Foram os portugueses e holandeses que fixaram a fronteira que funciona até hoje em dia. Timor Ocidental hoje em dia faz parte à República da Indonésia e Timor Oriental tornou-se independente em 1975 e veio restaurar a sua independência em 2002.
Foi por causa desta divisão entre Portugal e Holanda faz surgir as diferenças em termos da religião. Timor Ocidental tem como a maioria população abraça a religião calvinista e em Timor Oriental a sua população na maioria é católico.
Mesmo assim, em Timor Ocidental ainda há algumas zonas que preservam bem a religião católica. Mesmo os holandeses tentaram espalhar a sua religião mas essas zonas continuam abraçar fortemente a religião católica. Essas zonas como por exemplo Larantuka, Flores, Alor e Atambua. Em Alor e Atambua as suas populações dividem-se nestas duas religiões. Enquanto em Larantuka e Flores, eles ainda são católicos e continuam saber rezar em português.
Enquanto em Timor-Leste hoje em dia é conhecido com um país com a maioria da sua população é católica. Mesmo assim não se pode esquecer que no tempo português a religião católica não penetra profundamente na população timorense. Ainda houve grande maioria população que continuava praticar as suas crenças tradicionais. Como podemos verificar no mapa datado em 1882. Até algumas regiões não existiam religião católica. Todas estas regiões no mapa antigamente funcionavam como reinos. Por isso os reinos que não tinham influência da religião católico neste data eram Suai, Atsabe, Manufahi, Cailaco, Cotobaba-Sanir-Balibo. Todos os seus povos eram animista. Enquanto que outros reinos como Cova, Maubara, Liquiça, Deribate, Ermera, Liquiça, Dailor, Faturo e Sarau tinham um número muito pequeno da religião católica. Mas no reino de Oecusse a sua população era na maioria da religião católica e depois a seguir o reino de Manatuto, Alas,  Barique, Vemasse/Laga, Díli, Laclo/Laleia, Viqueque, Ambeno, Luca, Motael, Venilale e Funar.
Por acaso os meus familiares fazem parte do reino de Funar. Aliás no reino de Funar os meus antepassados do lado da minha mãe e do meu pai foram as primeiras pessoas que foram baptizadas.
Ao passo que Laklubar antigamente faz parte ao reino de Samoro. Foi por isso que não apareceu neste mapa em 1882. Mas Funar sim. Funar apareceu porque antigamente Funar era um dos reinos que existia no território de Timor Oriental. Há muita gente não sabe disso. Os que sabem só os que têm interesse na cultura e na história. Laklubar só posteriormente tornou-se como reino a parte do Samoro depois de ter recebido “sorte” de duas localidades: Susuk e Orlau.
No tempo português, o Estado de Portugal não interferiu muito na vida do povo timorense. Cada um era livre de fazer os seus rituais tradicionais segundo as suas crenças tradicionais. Agora era diferente no tempo da ocupação da Indonésia. O Estado da Indonésia nas suas leis obrigava para que cada cidadão tinha que ter uma religião. Quem não tivesse a religião era idêntico como revoltoso ou como comunista. O comunismo era muito proibido em Indonésia naquela altura. Então o povo timorense foi abraçando à religião católica em toda o território de Timor Oriental. Foi assim que o número da religião católica cresceu brutalmente. Era uma forma de resistir contra o islamismo da Indonésia. É porque Indonésia era e é considerado como o país que têm mais número de crentes do islão no mundo. O maior país islão do mundo. Mas mais do que isso é porque Timor Oriental já está ligado há séculos com o catolicismo. Catolicismo não é algo estranho. O catolicismo já existe no meio dos timorenses. Era contrário com o islão. O povo timorense acabou de conhecer o Islão depois da invasão da Indonésia. Então quando era para escolher, o povo timorense na sua maioria escolheu religião católica como a sua religião. Por isso hoje em dia em Timor-Leste a religião que tem maior número de crentes é a religião católica. Aliás no sudeste asiático há dois países que tem na sua população o maior número dos católicos. Esses países são Filipina e Timor-Leste. Por isso foi um erro muito grande quando o primeiro governo constitucional formado por partido Fretilin entrou em conflito com a igreja católica. O conflito entre a Fretilin e a Igreja Católico surgiu por causa da diferença percepção no ensino da religião nas escolas públicas.
Este conflito tornou cada vez mais complicado e tornou cada vez pior e posteriormente levou a hierarquia da Igreja Católica organizou uma manifestação pacífica quase um mês. Eu afinal antigamente era simpatizante da Fretilin. Eu era simpatizante da Fretilin porque a Fretilin sofreu muito durante a resistência pela libertação de Timor-Leste. Mais do que isso é porque em 1975 o meu avô também era um dos principais delegados da Fretilin em Funar.  Em 1975 o meu avô, o chefe aldeia de Bamatak e chefe aldeia de Fahilihun receberam a entrada da Fretilin em Funar. Mas quando aconteceu manifestação da Igreja Católica eu fiquei triste. Nós não devemos esquecer que durante a resistência, a Igreja Católica assumiu o papel muito importante na luta. Depois da libertação na constituição da República reconhece a participação da Igreja Católica na resistência pela libertação da pátria. Então durante a manifestação da Igreja Católica eu de vez em quando fui participar rezar a noite com os outros manifestantes no Jardim de Lecidere, o sítio na qual concentraram todos os manifestantes de todo o território de Timor-Leste. A partir deste acontecimento eu decidi não continuar ficar como simpatizante da Fretilin. Eu queria ser independente e ser um académico para eu puder contribuir ou dar opiniões ao processo de desenvolvimento do país sem misturar coisas partidárias.
Então será que Timor-Leste é um país católico? Pois Timor-Leste é um estado laico mesmo assim a prática da religião católica ainda é grande e é muito bem visível em todo lado do território. Mais do que isso o Catolicismo já não é só como o maior religião de Timor-Leste mas também já se tornou como uma identidade do povo timorense. Uma identidade que já penetra na alma de cada timorense.