Eu não concordo com afirmação do Affonso de Castro
que diz que se o escravo que obtém a liberdade pertence a um homem do povo,
passa de escravo à segunda classe da sociedade mas, se ele pertence à primeira
classe, o escravo passava, de um momento para o outro, a nobre.
Para a minha cultura e no reino de Funar esta declaração é
totalmente falsa. Um escravo ou um homem livre nunca pode ter estatuto social
igual ao dato ou ao liurai. Há sempre limitações. Há sempre diferença de
tratamento sócio-cultural entre os escravos/homens livres com os datos/os reis.
Os escravos/homens livres nunca podem ser iguais aos datos ou aos liurais. Eu
vou dar um exemplo que podemos ver claramente essa diferença. Numa cerimónia
ritual do reino ou numa cerimónia ritual da casa sagrada dos datos ou dos liurais,
os escravos e os homens livres nunca podem sentar juntamente com os datos ou os
liurais na mesma linha. Há sempre uma distância bem longe com os homens livres
e enquanto os escravos não podem entrar para a casa sagrada dos datos e dos
liurais.
Isso enquanto eu falo em relação com as cerimónias rituais tradicionais das casas sagradas dos datos e dos liurais.
Isso enquanto eu falo em relação com as cerimónias rituais tradicionais das casas sagradas dos datos e dos liurais.
Para mim como ser humano e como cristão eu penso que nós os seres
humanos somos iguais. Devemos ter igualdade de tratamento da sociedade. Isso
sem dúvida.
Mas em relação com as casas sagradas, eu mesmo faço parte da
classe social dos datos e dos liurais(família da minha mãe) eu não posso
autorizar uma pessoa livre e um escravo entrar na minha casa sagrada (do pai)
ou na casa sagrada da minha mãe. Porque não é a mim que não autorizo mas a casa
sagrada é que não autoriza essas pessoas a entrar, a sacralidade da casa onde
guarda os objectos sagrados e onde habitam os antepassados é que não autoriza. Os
antepassados da casa sagrada dos datos e dos liruas é que não autorizam. Eu
também tenho medo deles. Eu não posso quebrar as regras para permitir uma outra
pessoa que não é da mesma classe social pode entrar na minha casa sagrada.
Em Timor ou pelo menos no reino de Funar as pessoas quando
entram na casa sagrada dos datos ou dos liurais também já sabem se a sua classe
social permite para possam entrar na casa sagrada dos datos-dos liurais ou não.
Porque elas também têm medo se elas não fazem parte da classe social dos datos
ou dos liurais então elas automaticamente já sabem e têm medo de entrar na casa
sagrada dos datos ou dos liurais. Elas já sabem que elas não podem entrar.
Eu estou a escrever assim simplesmente por razão do sagrado da
casa sagrada não pela minha vontade. É para clarificar esta declaração do
Affonso de Castro. Talvez ele pudesse encontrar essa realidade nos outros
reinos. Mas no reino de Funar e na maioria dos reinos que eu conheço acho que
não. Não há essa mudança de classe social como ele referiu.
Mas como ser humano temos que ter consciência que somos
iguais perante a lei de Deus e a lei do Estado. A diferença só existe enquanto
estamos perante as cerimónias ou os rituais tradicionais sagrados das casas
sagradas. Porque em Timor ainda há essa prática das cerimónias e rituais
tradicionais sagrados. Só nesses momento é que há diferença entre nós
timorenses agora na vida social-político-económico todos nós somos iguais.
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