quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Língua Portuguesa em Timor, quo vadis?

Um dos versos do Fernando Pessoa muito bem conhecido em Timor é a Minha Pátria é a Língua Portuguesa. Não sei com que motivo o poeta Fernando Pessoa escreveu essa estrofe tão bonito e tão patriótico no seu tempo. Se calhar ele queria que todos os povos que falassem Língua Portuguesa como se fossem irmãos. Isso faz muito sentido enquanto antigamente Portugal considerava Timor, Macau, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Tomé e Príncipe, Cabo-Verde e Brasil como parte integrantes do seu território. Então se calhar ele tinha uma ideia de quem falava português tinha ligação especial com Portugal. A segunda ideia pode coincidir com o facto de existir uma Comunidade dos Países de Língua Portuguesa(CPLP) e oito estados que adoptam Língua Portuguesa como a sua língua oficial.

Timor depois da sua independência ou concretamente no momento em que se cria assembleia constituinte em 2002, o estatuto da Língua Portuguesa legalizou-se como língua oficial a par com a Língua Tetum na sua constituição(CRDTL Art. 13). Contudo o interesse de manter a Língua Portuguesa vem desde o tempo da resistência onde a Língua Portuguesa se transformou como um instrumento da unidade nacional e de identidade do povo timorense na luta contra ocupação indonésia e da cultura javanesa. Foi assim que a Indonésia com o seu presidente Soeharto considerava Língua Portuguesa como o inimigo para a integração de Timor para Indonésia. Então proibiu a utilização dessa língua durante vinte e tal anos. Durante esse tempo quem falasse Língua Portuguesa era considerado como criminoso contra o estado e a pena era a tortura com toda a crueldade e ou a morte.

A proibição da Língua Portuguesa faz com que a geração nova perdesse completamente o contacto. Quem sabe falar português é a geração antiga que foi educada antes de 25 de Abril de 1974. Quase ninguém fala português dentro da sociedade timorense. Ou seja podemos dizer que ninguém fala português fora das salas de aulas, em casa, na rua, nos escritórios públicos ou privados. Ainda por cima a maioria da população de Timor é jovem. Isso significa que a reintrodução da Língua Portuguesa é uma grande tarefa e ao mesmo tempo uma responsabilidade de todos nós. Quem que já esteve em Timor sabe melhor a nossa realidade.

Como um jovem timorense eu estou muito contente por ler no jornal Diário do Minho edição 22 de Janeiro que uma professora portuguesa se chama Joana Santos está a recolher livros para Timor-Leste. Isso é uma ideia muito excelente. Precisamos muito de livros para ajudar-nos a interiorizar a Língua Portuguesa. Sem dúvida Timor-Leste precisa muito dos livros em português. Temos que ajudar o sucesso desse projecto na forma como pudermos.

Além disso eu estou muito seguro e quase de certeza absoluta de que o intercâmbio cultural dos estudantes timorenses que estão a estudar Língua Portuguesa no país com outros jovens dos outros países de Língua Oficial Portuguesa é extremamente importante. Ou será muito mais importante se esses estudantes timorenses vieram estudar e aprender a Língua Portuguesa um ano num país onde se fala só português para se interiorizarem melhor o conhecimento da Língua Portuguesa antes de acabarem o curso. No outro lado os estudantes timorenses que já estão cá a estudar principalmente os que acabaram de chegar ou todos os que acham que precisam de um curso intensivo do português para o sucesso do seu estudo, a Universidade onde cada estudante timorense está inserido deve fazer os possíveis para melhorar o português desses estudantes. Para que esses estudantes possam usá-la na vida diária e depois eles possam ser instrumento muito eficaz no processo de reintrodução da Língua Portuguesa na comunidade timorense.

Eu tenho uma experiencia na qual em Timor eu era conhecido como o melhor jovem estudante do Departamento de Língua Portuguesa da Universidade Nacional de Timor Lorosa’e. Quando eu cheguei aqui em Portugal no ano passado, eu tive muitas dificuldades em falar português. Sinto-me eu como se fosse o pior estudante que existe no mundo. Porque tudo aquilo que eu aprendi dentro da sala de aula não “bate” certa na vida real. Esta experiência faz com que eu chegasse numa conclusão que a Língua não é só as gramáticas dadas nas aulas mas mais do que isso ela é uma vida, um espaço, uma cultura, um tempo contínuo e permanente. A língua se aprende, falando. Com o tempo eu já estou melhorando, pouco a pouco.

Por isso estou grato também pela iniciativa de alguns professores como Professora Elisa Ribeira, Professor Nelson e Professor Márcio na qual estão a vender um livro intitulado “(Com)textos” e estão a tentar levar alguns colegas estudantes timorenses do Departamento de Língua Portuguesa da Universidade Nacional de Timor Lorosa’e para seguirem o curso de verão de Língua Portuguesa aqui em Portugal e para eles possam entrar em contacto com a língua diariamente. Essa iniciativa torna-se possível por intervenção muito importante da Embaixada de Portugal em Timor, Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis do Distrito de Aveiro e por muitos outros que contribuíam com a compra do livro para que, nós que temos a esperança que um dia cada timorense já pode dizer “a minha pátria é a Língua Portuguesa” como também a Língua Portuguesa fique interiorizada na mente dos timorenses e já se pode falar em público por todo o território do país do sol nascente.

Hercus Pereira dos Santos

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